PRISÃO É COISA DE CINEMA: A PROJEÇÃO DO AUDIOVISUAL COMO ELEMENTO DE REFLEXÃO E RESSOCIALIZAÇÃO
- Marroca Infos Prisionais
- 15 de set.
- 3 min de leitura
Atualizado: 13 de out.
Quando o cinema entra na prisão, a arte se torna instrumento de reflexão, esperança e transformação para quem vive atrás das grades.

Prisão é palco de dor, sofrimento, humilhação. A cadeia é um ambiente hostil, insalubre e atrai uma série de espectadores sádicos que acreditam que o esculacho deve ser o rito de justiça aplicado aos sujeitos que estão privados de liberdade, sejam eles condenados ou não. Mas não é só isso, o ser humano aprisionado, se transforma e é transformado pelo ambiente a partir daquilo que lhe é oferecido no espaço que lhe foi designado.
A "I Mostra de Cinema e Direitos Humanos no Sistema Prisional" é uma oferta estatal para mudança de percepção. Enquanto as pessoas desejam assistir o pior e mais trágico sobre a prisão, os prisioneiros estão em espaços adequados ou até mesmo em espaços improvisados assistindo produções audiovisuais numa Mostra voltada para o próprio contexto penitenciário.
Os presos possuem um aparelho de televisão dentro da cela, e ali acessam os filmes que são transmitidos pelos canais de televisão. Os filmes vespertinos ou noturnos, são oferecidos com intervalos e cortes para então caber na grade televisiva. Então os únicos filmes na cadeia são aqueles que são transmitidos em rede de sinal aberto.
Contudo, a Sétima Arte invadiu a prisão e tomou de assalto a atenção de milhares de telespectadores que estão encarcerados no país.
E se os presos não podem ir ao Cinema, o cinema vai ao presos, e esse encontro tem uma série de desdobramentos.
Mas vale destacar a seguinte questão: a sessão está encerrada para todos aqueles, que por implicância e birra, vociferam a seguinte sentença: “tem que ter cinema para vítimas”, ou ficam indagando sobre qual a condição do preso, como se prisão fosse um hotel cinco estrelas com oferta de cinemateca aos condenados.
Sobre os desdobramentos da oferta de filmes na prisão, a gente não sabe se a I Mostra tem uma proposta de garantia de direitos, no âmbito da Cultura e Educação, se tem um caráter recreativo, de lazer, do consumir para se divertir, com a pretensão de aliviar o tempo de cadeia , mas não se pode negar o quanto a proposta atende a tais situações narradas.
Não querendo atribuir responsabilidades ou atribuições ao excelente projeto cinematográfico nos presídios, é oportuno reconhecer ganhos e possibilidades em cada reprodução na Mostra de Cinema, em que os presos podem refletir sobre a importância da arte e da cultura. E o quanto podem se interessar pela produção do audiovisual, acenando para eventual oportunidade no mercado de trabalho, numa espécie de interesse por uma profissionalização.
Cinema na prisão não é só mordomia pra bandido, pode gerar reflexão, identificação com o enredo apresentado, ser estimulado a mudar a partir de um personagem ou de estórias e histórias narradas. É compreender o bem que a produção audiovisual provoca e deseja fazer parte de toda produção, é sair da cadeia de custódia para a cadeia da arte e compreender as engrenagens e funcionamento.
O cinema pode cumprir uma funcionalidade terapêutica, de saúde mental, de exercício e estímulo para pensar fora da caixa, fora da punição, fora do eixo punitivo.
A pesquisadora Vanusa Maria de Melo, em sua dissertação de Mestrado, publicou um excelente trabalho para a obtenção de título. Vanusa escreveu: “Aproveitando brechas: experiência com cinema em escolas prisionais do Rio de Janeiro” e recentemente organizou uma publicação muito importante sobre a relação do cinema e a prisão, o livro pode ser encontrado aqui. Esses dois trabalhos nos ajudam a compreender mais sobre as contribuições do cinema para a prisão, e revela que muito antes da Mostra, o cinema já era protagonizado como algo importante dentro da prisão.
É comum a gente observar a relação do cinema com a prisão, a partir de roteiros que tratam da questão penitenciária, mas a prisão como coisa de cinema não é só isso, e pode ser muito mais. Que a I Mostra de Cinema e Direitos Humanos no Sistema Prisional seja um pontapé institucional para a integração dos assuntos e resulte em transformação de vidas e da própria trágica realidade prisional.
Nossa torcida é para que esse filme passe em todas as telas do Brasil, onde a arte e a educação são protagonistas de reformas sociais dentro e fora das prisões brasileiras. Viva o Cinema brasileiro e todos os profissionais envolvidos, e que o Brasil seja telespectador dessa grande arte do cotidiano: a transformação do ser humano.
fonte: Ascom-Seap/PB






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